sexta-feira, 23 de setembro de 2011

“Abusado, Dono do Morro Dona Marta”

Estar dentro de uma favela... conviver com traficantes enfiados pelos becos... correndo de tiros... fugindo com um cara procurado pela polícia e ter a história completa... saber o que realmente se passa dentro de uma ‘cidade’ e conhecer a realidade de um povo esquecido! É por esse caminho que foi traçado o livro “Abusado, Dono do Morro Dona Marta”

Não faço aqui, em hipótese alguma, apologia ao crime, drogas, assaltos, tráfico de armas e seus afins, mas confesso que depois que li o livro repensei, de maneira que nunca havia me dado conta, o quanto essa classe menos favorecida é inteligente e o quanto a elite os consomem.

Para quem gosta de ler, essa reportagem investigativa é um prato cheio. Histórias sobre fugas, amores, morte, companheirismo e traição não faltam.

A obra se passa em volta de um traficante carioca chamado Marcinho VP, (apresentado como Juliano VP) líder da favela Santa Marta que viveu o período mais conturbado da vida da maioria das pessoas, a adolescência, de maneira precária. Cresceu e descobriu que poderia ter muita coisa na vida... só não sabia que pagaria caro por isso!

Juliano progrediu dessa forma. Teve exemplos ‘bons’ no mundo do crime. Era inteligente... ágil... e buscava sempre ser o melhor no que fazia. Ganhava muito dinheiro... gastava sem pensar... ficava sem nada... traçava novos planos... e se empenhava e mais uma vez, com muito custo, ‘vencia’.

A obra também retrata princípios como educação, ajuda ao próximo, religião e sobre como proporcionar uma vida digna à família... Para nós, que vivemos numa sociedade ‘normal’, pode parecer fora da realidade deles, mas é isso que anseiam... é por isso que lutam... se esforçam e acham, de maneira falha, o mundo do crime para suprir seus desejos.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A página precisa ser rasgada

Quando esquecer se torna uma necessidade. O coração acelerou e a respiração se fez áspera. Os olhos se encheram de lágrimas. As palavras foram embora e em seu lugar se instalou um silêncio ensurdecedor. O único porto-seguro é a cama, mas é só encostar a cabeça no travesseiro que o sono levanta! A vontade é de fugir, mas ir pra onde? O segredo é descobrir um lugar, um único lugar onde você não entre nos meus pensamentos!

Nada  diminuiu a intensidade dessa ventania que passou por aqui e bagunçou a rotina. A realidade é triste e dói, dói muito, mas varrê-la para debaixo do tapete não resolve o problema, só agrava já que mesmo não estando a olhos vistos, causa a mesma alergia.

O piloto automático está ligado. É preciso continuar, nenhum médico forneceria um atestado de ‘coração dilacerado’. Pinto a cara de maquiagem pra esconder as olheiras, buzino para o cara que me fecha no trânsito, dou ‘bom dia’ pra pessoas, visto um sorriso no rosto e tento manter a tranquilidade para acalmar o coração, que quer gritar suas angustias. É preciso paciência pra esperar que o tempo cure as feridas e leve as dores.

Fica as lembranças, as mensagens, as declarações, as fotos, o carinho. Todo o resto já não existe mais. Remoer o porquê só traz mais sofrimento. Não há culpados, nem vítima e algoz. Existem sim escolhas, e cada um é responsável pelas suas.

A esperança, os sonhos e expectativas foram embora com o seu adeus! O dia está lindo, azul céu de brigadeiro, mas aqui dentro só chove, lágrimas... Como digo sempre: 'a página precisa ser rasgada, virar a folha não, porque se corre o risco de lá na frente voltar pra ler a mesma história'.

"Dói tanto que não dói mais. Como toda dor que de tão insuportável produz anestesia própria", externou perfeitamente o escritor Caio Fernando de Abreu.