quarta-feira, 16 de março de 2016

"O Garoto No Convés": uma reviravolta na vida de um garoto problemático

O livro "O Garoto no Convés" é a segunda obra que leio de John Boyne (a primeira foi "O Menino do Pijama Listrado"), e confesso que gostei ainda mais!! A história traz um menino, John Jacob Turnstile, de apenas 14 anos, vindo de Porstmouth, no sul da Inglaterra.

Sem pai, nem mãe, John Jacob , é criado por um senhor que só visa dinheiro, não se importando em como consegui-lo. John mora com outros garotos – todos menores de idade - que também trabalham como ele: roubando, durante o dia, e sendo objetos sexuais de senhores conhecidíssimos do local, à noite.

Em um desses dias de "trabalho", o garoto se vê em uma grande enroscada. Sendo apanhado enquanto efetuava um furto, Turnstile estava prestes a voltar para o xadrez e agonizar em uma situação precária, quando viu sua vida dar uma reviravolta através do mesmo senhor que ele havia furtado.

As condições para que ele não permanecesse em uma cela seria embarcar na mesma hora em um navio inglês, para ser criado do capitão. Sem pestanejar, ele aceita a aventura, afinal, tinha certeza de que conseguirá fugir a qualquer momento tanto do trabalho pesado em alto mar, quanto da sua vida escrava vivida nas mãos daquele homem sem escrúpulos.

Sua partida é marcada em 1787, há exatos dois dias antes do Natal. Cercado de altas aventuras, brigas, confusões, infidelidades e tantas outras situações, o pobre Turnstile não consegue seguir suas vontades e acaba por ficar preso na vida marítima, se indagando sempre sobre seu passado traumático e se estará preso à vida toda na mesmice e na pobreza.

Uma das frases que mais me chamou a atenção foi:

"'Pronto sir', disse então, voltando-me para segui-lo morro acima, perguntando-me o tempo todo se ele tinha razão, se um garoto da minha situação estava condenado a sempre ser o que era, ou se havia um jeito de fugir do trabalho pesado e da obediência".

De início, achei a leitura um pouco pesada e não conseguia ler por muito tempo, mas depois a narrativa começou a prender e a vontade de saber o que aconteceria com Tutu, – apelido que ganhou durante sua viagem no navio Bounty – se tornou mais forte.

A ida até uma ilha paradisíaca, chamada de ilha de Otaheite, visava buscar mudas de fruta-pão para as colônias inglesas e tinha tudo para dar certo. Até que alguns tripulantes decidem se revoltar contra o capitão Bligh. A ideia dos que provocaram o motim era não voltar para a terra natal e viver por lá, aproveitando a boa vida: sem trabalho e sexo fácil com as nativas local.

Munidos apenas de um bote sem estrutura, Tutu, seu capitão e os poucos tripulantes, passam por momentos difíceis em alto mar até conseguirem chegar a um destino seguro. Fome, tempestades, sede, doenças, sol e chuva, são apenas algumas das duras situações que eles enfrentaram.

Vale lembrar que essa é uma história baseada em fatos reais, contada como se fosse o diário de Jacob. Apesar de todo o sofrimento descrito pelo personagem, o abandono que sofreu quando criança e todas as terríveis circunstâncias, o livro é uma prova de que com dedicação, lealdade e vontade, qualquer pessoa está apta a se tornar alguém importante e de alto valor. John Jacob Turnstile se tornou um exemplo e vale a pena você saber o que aconteceu com ele no final!

sábado, 12 de março de 2016

O Diário de Anne Frank: a história que sobreviveu a guerra

Capa do livro O Diário de Anne Frank
Entre 12 de junho de 1942 e 1º de agosto de 1944, a jovem Annelies Marie Frank, ou melhor, Anne Frank, contava os dias para sair do seu esconderijo e voltar a sua vida normal – ou o que se poderia aproveitar após a Segunda Guerra Mundial.

Trancada com seu familiares no antigo escritório do seu pai, em Amsterdã, e juntamente com outra família, os van Daan e um dentista Albert Dussel, Anne deixava de ser uma menina – já muito esperta – para ser uma mulher que tentava lutar com a ânsia de entender o que acontecia ao seu redor.

Começou a escrever em seu diário com o intuito de que quando a guerra chegasse ao fim, pudesse publicar como foram seus dias escondidos, se alimentando de comida estragada, evitando fazer barulhos, com precários e calculados banhos, idas ao banheiro e o constante medo de ser descoberta.

No início de agosto de 1944, o que ela mais temia aconteceu: o esconderijo foi descoberto e Anne, separada de sua família, morreu no ano seguinte em um campo de concentração. O único sobrevivente dessa árdua estadia, seu pai, Otto H. Frank, recebeu posteriormente - em 1947 - o conteúdo no qual sua filha havia dedicado os últimos anos.


De origem judaica, os relatos diários da jovem narram seus sentimentos e descoberta, o amor e amizade, momentos de solidões e alegrias, decepções e esperanças juntamente com a certeza de que ela amadureceu de forma sofrida, sem condições de lutar por liberdade.

Apesar da grande notoriedade de Anne e do livro, confesso que esperava mais histórias, talvez um pouco mais de sofrimento, já que a guerra somente traz isso. Mas foi interessante ver o lado que precisava se esconder e conter a sua voz.

quinta-feira, 10 de março de 2016

"Holocausto Brasileiro": os normais é que são loucos

Capa de Holocausto, livro que conta a
história de um manicômio brasileiro
que matou 60 mil pessoas
Lançado em 2013 pela editora Geração e escrito pela jornalista Daniela Arbex, recentemente acabei de ler o Holocausto Brasileiro. A obra retrata as condições mais do que precárias de uns dos piores manicômios já existentes. Localizado em Barbacena, Minas Gerais, o Colônia matou mais de 60 mil pessoas, entre 1903 e 1980.

Em sua maioria, pessoas normais, sem problemas clinicamente comprovados. Indivíduos tímidos, mulheres abusadas sexualmente pelos patrões (incluindo crianças), que precisavam desaparecer, esposas trocadas pelos maridos que ficariam com as amantes, alcoólatras, homossexuais, filhos com alguma deficiência tratável, mas "vergonhosa" para as famílias e até mesmo pessoas que tinham rixas com outras de poderes aquisitivos superiores.

Eles queriam números, massa, mais gente, mais corpos, mais dinheiro! Fundos arrecadados com a chegada de novos seres humanos, fundos extraídos com a morte desses mesmos. Tudo era lucro para os maiorais.

 Faculdades do estado de Minas faziam ótimos negócios. Compras grandes a preços "bacanas", a custo do sofrimento alheio. Todas as pessoas que eram levadas pra lá – a força – tinham suas vidas destruídas, não somente pela sua falta de escolha, mas pelas condições em que se encontravam.

Tratadas de forma agressiva e mais sofridas do que um animal, os internos eram obrigados a ficarem nus (em praticamente todas as estações), ao relento (sol escaldante, chuvas em excesso), comendo como porcos uma "refeição" batida, jogadas em coxo, - quando não comiam os ratos do local - dormindo em capins no chão, já que camas ocupariam espaço de pessoas e tomando água do esgoto, com os urubus a sua volta.

Em seu livro Daniela recolhe alguns depoimentos dos poucos sobreviventes, que se recordam das miseráveis condições de "vida". A autora também relembra a conivência das autoridades, da falta de voz dos que queriam mostrar a situação ao mundo, ao Brasil, ou somente para os poucos que estavam interessados em saber da existência daquele campo de concentração.

O volume ainda traz, além das imagens cedidas pelo fotógrafo Luiz Alfredo, da extinta revista "O Cruzeiro", que na época já tentava expor a situação do hospital, passagens das experiências feitas pelos médicos do lugar que tentavam "curar" os doentes de forma bruta e insana.

Para quem gosta de um bom livro-reportagem, esse é uma boa pedida!