quinta-feira, 10 de março de 2016

"Holocausto Brasileiro": os normais é que são loucos

Capa de Holocausto, livro que conta a
história de um manicômio brasileiro
que matou 60 mil pessoas
Lançado em 2013 pela editora Geração e escrito pela jornalista Daniela Arbex, recentemente acabei de ler o Holocausto Brasileiro. A obra retrata as condições mais do que precárias de uns dos piores manicômios já existentes. Localizado em Barbacena, Minas Gerais, o Colônia matou mais de 60 mil pessoas, entre 1903 e 1980.

Em sua maioria, pessoas normais, sem problemas clinicamente comprovados. Indivíduos tímidos, mulheres abusadas sexualmente pelos patrões (incluindo crianças), que precisavam desaparecer, esposas trocadas pelos maridos que ficariam com as amantes, alcoólatras, homossexuais, filhos com alguma deficiência tratável, mas "vergonhosa" para as famílias e até mesmo pessoas que tinham rixas com outras de poderes aquisitivos superiores.

Eles queriam números, massa, mais gente, mais corpos, mais dinheiro! Fundos arrecadados com a chegada de novos seres humanos, fundos extraídos com a morte desses mesmos. Tudo era lucro para os maiorais.

 Faculdades do estado de Minas faziam ótimos negócios. Compras grandes a preços "bacanas", a custo do sofrimento alheio. Todas as pessoas que eram levadas pra lá – a força – tinham suas vidas destruídas, não somente pela sua falta de escolha, mas pelas condições em que se encontravam.

Tratadas de forma agressiva e mais sofridas do que um animal, os internos eram obrigados a ficarem nus (em praticamente todas as estações), ao relento (sol escaldante, chuvas em excesso), comendo como porcos uma "refeição" batida, jogadas em coxo, - quando não comiam os ratos do local - dormindo em capins no chão, já que camas ocupariam espaço de pessoas e tomando água do esgoto, com os urubus a sua volta.

Em seu livro Daniela recolhe alguns depoimentos dos poucos sobreviventes, que se recordam das miseráveis condições de "vida". A autora também relembra a conivência das autoridades, da falta de voz dos que queriam mostrar a situação ao mundo, ao Brasil, ou somente para os poucos que estavam interessados em saber da existência daquele campo de concentração.

O volume ainda traz, além das imagens cedidas pelo fotógrafo Luiz Alfredo, da extinta revista "O Cruzeiro", que na época já tentava expor a situação do hospital, passagens das experiências feitas pelos médicos do lugar que tentavam "curar" os doentes de forma bruta e insana.

Para quem gosta de um bom livro-reportagem, esse é uma boa pedida!

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